Esta dica, já estava na minha lista, só que a escolha do madeirense mais conhecido no mundo, o Midas do futebol, acabou por alterar as minhas prioridades e antecipá-la. A sua recente escolha para um passeio com a companheira e filho, no final desta sua última estada na Madeira, despertou a curiosidade natural dos seus fans (e não só).
O momento é o mais oportuno para vos apresentar o “apêndice” da ilha, conhecido pelo nome de Ponta de São Lourenço (a designação remonta ao séc. XV, ao nome da embarcação de João Gonçalves Zarco, aquando a descoberta “oficial” da ilha), o extremo mais oriental da ilha da Madeira. Uma península de 9 km de comprimento onde a paisagem difere tanto do resto da ilha que, mais parece fazer parte do continente africano.
O trilho encontra-se numa área protegida, integra o Parque Natural da Madeira e a rede Natura 2000, tem uma extensão de 4 km (one way), inicia-se na Baia d´Abra e conduz até a uma espécie de oásis, a Casa do Sardinha, (nome de família do anterior proprietário). Esta casa integra, um centro de apoio aos vigilantes do Parque Natural onde é possível ampliar o conhecimento sobre toda a área (fauna, flora, idade geológica); instalações para picnic, snack bar e sanitários.
O trajeto é um deslumbre para quem aprecia a natureza. Requer um certo esforço físico pois há alguns desníveis para transpor, a vereda é ondulante, semelhante ao mar, visível ao longo de todo o trajeto e ao esvoaçar das borboletas que nos acompanham ocasionalmente. É evidente o contraste, Norte/Sul, não só a nível da agitação marítima, mas também na própria forma das falésias de várias tonalidades, mais abruptas e rasgadas pela erosão; sobretudo dos Aliseos, os ventos dominantes, no lado Norte.
Os apaixonados pela botânica, ornitologia e geologia, também encontram aqui terreno fértil para as suas “leituras”. Sem querer me alongar sobre estes temas, fica a referência a uma das partes mais antigas da ilha (uma vez que a formação ocorreu com o orientação Leste/Oeste), e uma biodiversidade elevada que inclui muitas espécies endémicas da Madeira e da Macaronésia (arquipélagos Atlânticos que também incluem as Canárias, os Açores e Cabo Verde). As flores, umas mais vistosas que outras, dispersas ao longo do trilho, salpicam-no com um colorido especial. Embora a minha colega e conterrânea, Margarida Pereira, na sua dica, vos fale das flores de cá, não resisto a mencionar duas, entre a diversidade de plantas adaptadas à aridez do local, que agora, na Primavera, cativam o nosso olhar. O Goivo da Rocha (Matthiola Maderensis), e a Barrilha ou Erva Gelada, também conhecida como planta do gelo ou erva orvalho (Mesembryanthemum cristallinum), como indica o nome, brilha lembrando cristais expostos à luz solar. Visíveis no horizonte, em dias claros, as 3 ilhas Desertas a Sul e o Porto Santo a Norte, convidam- nos a uma visita.
O ideal para complementar o passeio, será mergulhar nas águas cristalinas no Cais do Sardinha e regressar de barco, em alternativa a repetir o trajeto até ao ponto de origem.
Rosa Figueiredo
rasamaya.figueiredo@gmail.com