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Reveal Writer - A bolota - o fruto renascido

Foi um prazer descobrir a história da bolota, tudo aquilo que se faz com ela e falar com o Chef Pedro Mendes.

Agora só me falta mesmo provar todas as iguarias.

Aqui fica o artigo que escrevi para o Reveal Portugal e deixem-se ficar com água na boca.

Quando pensamos em bolota pensamos automaticamente na alimentação dos animais, principalmente dos porcos. Mas sabiam que este fruto altamente nutritivo e rico em proteínas era considerado na Antiguidade Clássica como o “alimento para invencíveis”?

O uso da bolota ao longo dos tempos

A bolota é o fruto das árvores do tipo Quercus, como o sobreiro, a azinheira e o carvalho. Quando, em tempos idos, se consumia apenas o que crescia no local, utilizava-se muito a bolota onde este tipo de árvores era autóctone, ou seja, no hemisfério setentrional, da América do Norte ao Japão.

Na nossa Península Ibérica acontecia o mesmo. Os nossos ancestrais Lusitanos colhiam a bolota no Outono, transformavam-na em farinha para, principalmente, produzir pão, conseguindo contornar a escassez de cereais no Inverno. E esse hábito manteve-se por séculos. A última vez que a bolota foi utilizada frequentemente na alimentação humana foi durante a Grande Guerra, quando havia racionamento de cereais, mas bolotas havia com abundância.

Quando Salazar quis fazer do Alentejo o celeiro da Europa, escolheu para plantação o trigo, pois é um cereal de crescimento rápido. A bolota perdeu assim terreno, ficando reservada para os porcos, mas também para as vacas e, a partir de então, surgiu a ideia que comer bolota significava pobreza.

O renascer

O renascer da Bolota dá-se recentemente, sobretudo com a curiosidade, esforço e dedicação do Chef Pedro Mendes. Apreciador do fruto, Pedro dedicou-se ao estudo deste alimento e escreveu o livro “Renascer da Bolota”.

Uma investigação da Universidade Católica do Porto ajudou a demonstrar o potencial deste fruto: tem um altíssimo valor nutricional, é rica em fibra e proteína (o que a torna muito apelativa para vegetarianos), tem um perfil de lípidos semelhante ao do azeite e não contém glúten.

A bolota revelou-se ainda muito rica em compostos antioxidantes e água, estando a levantar bastante curiosidade no mundo da indústria cosmética.

Como saboreá-la

O Chef Pedro Mendes conta-nos que a bolota mais saborosa é a da azinheira por ser mais doce. As suas receitas, podemos prová-las no restaurante ‘Narcissus Fernandesii’ no Marmòris Hotel&Spa, em Vila Viçosa.

Outros exemplos dos surpreendentes usos deste fruto são: o pastel de nata de bolota da pastelaria Landroal, no Alandroal, assim como o pão de rala e o rançoso; as broas de bolota e mel de Estremoz; as tortas de bolota da Dom Alentejo; os licores de bolota da Vale do Mestre; os bolinhos e bolachas das Vergadas Aromáticas; as tartelettes de bolota e leite condensado e os bombons de bolota com chocolate do Moinho de Pisões; o café de bolota, os biscoitos, croquetes, hamburguers e patês do Freixo do Meio.

Água na boca? Fica a sugestão de começarem o roteiro gastronómico pelo Alentejo e depois partirem à aventura pelo resto do país.

Vamos valorizar o que é nosso!

Bom apetite.

Entrevista com Chef Pedro Mendes

Como nasce o interesse pela bolota?

Um pouco por acaso, mesmo..., num dos meus passeios pelo campo alguns anos atrás, ‘tropecei’ numa bolota, descasquei e comi....achei interessante colocar este fruto na mesa.

Quais foram os maiores desafios/resistências à introdução da bolota num menu de restaurante?

A bolota era naquela altura um produto mal-amado, utilizado na alimentação animal..., o grande desafio, foi o quebrar de um estigma, porque quem tinha memória do consumo humano, estava intimamente ligado à escassez e à fome, era consumida por ser muitas vezes o único recurso das gentes mais pobres, nomeadamente durante a Grande guerra e o racionamento dos cereais.

Qual a sua receita favorita?

A azevia de bolota e mel, por ter sido a única receita que encontrei...lembra-nos o que é verdadeiramente autóctone, é representativa de um povo.

Como tem sido a reacção do público?

Tem sido uma reacção muito positiva...apesar de durante dois anos todos me chamarem maluco e ninguém querer publicar o meu livro, depois do lançamento apareceram ‘miraculosamente ‘ produtos feitos a partir da bolota...faz-me feliz.

O Pedro parece gostar de desafios, algum novo ingrediente inesperado nos seus menus?

Sempre, as algas acompanham-me há quase tanto tempo como a bolota, mas passo muito tempo em mercados, quintas e herdades à procura de coisas novas (velhas!!!!)

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