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Vida.

Olho para o calendário e já passaram três meses e meio desde que a minha pequena Magalie nasceu.

Há momentos, confesso, em que estes três meses parecem longos anos... Tantos outros que voaram num vertiginoso relance!

E como ela muda! Como cresce! Faz pequeninas coisas diferentes todos os dias. Como chora e como ri, como palra de um modo que me derrete o coração. Como observa, como esbraceja, como parece querer correr para desbravar a vida. E aquela boquinha que ela faz quando começa uma birra.

Estou ansiosa para que chegue o primeiro beijinho dela, que cheguem as primeiras palavras, os abraços! Sim, eu sei, toda a gente avisa: "olha que chegará mais rápido do que pensas! Aproveita todos os momentos!"

Os nossos dias têm voado, nem sei onde se metem as 24 horas! Desaparecem com tarefas que parecem tão pequenas e banais, mas que permitem criar um espaço onde um ser possa crescer num ambiente saudável e calmo. São tarefas gigantemente belas e nobres. Cria-se um bebé totalmente dependente de nós que se formará num adulto pronto para deixar a sua marca no mundo.

E quando a noite cai e eu, cansada, olho para o relógio que me diz que são 21h, recuso-me a acreditar. Mas que raio fiz eu? Onde se meteu o meu dia?

Recapitulo: Dei de mamar, troquei fraldas, brinquei, dancei, fiz figuras tontas para divertí-la e andei com ela nos braços da cozinha ao quarto e do quarto à sala em contínuas idas e voltas até, finalmente, adormecer. Isso tudo várias vezes ao dia. Nos intervalos consegui comer alguma coisa, tratar, mais ou menos, de mim. Nos dias de sorte tenho alguma energia para ler, para não adormecer a ver um filme e, até, para sair um pouco de casa. Todas as tarefas tornam-se subitamente sobre-humanas! Eu não acreditava... Uma amiga disse-me um dia: "só de pensar em lavar o cabelo faz-nos refletir se precisamos mesmo de fazê-lo, não é?”

"Como pode ser possível?" pensava eu, "não será exagero?". Não é exagero, é essa a verdadeira realidade. São 21h, sinto-me cansada como se fossem três da manhã e tenho a noção estranha que nada aconteceu. É uma grande mistura de sentimentos.

Claro que todas as outras tarefas têm de ser executadas em pontas! Ao mínimo barulho ela estica os braços em sobressalto! Espreguiça-se, entreabre os olhos e, se se apercebe que está sozinha na sua cama, grita. Logo no momento em que, depois de finalmente acabar de lavar a loiça, de dar um jeito grosseiro à casa, penso "por fim posso descansar", a minha pequena Magalie acorda!

As mulheres são bombardeadas com o tema parto, mas o parto acaba por ser o momento mais fácil entre tanta mudança ( e o meu também teve o seu sofrimento inesperado). A vida que começa a seguir ao parto, essa sim, deveria ser mais partilhada e documentada. Deveríamos saber que o não dormir é real, que o cansaço é extremamente real, que a entreajuda no casal é primordial, que o carinho e o apoio de outros é essencial, que a reorganização da vida é precisa e que esta escolha tem de ser consciente, pois o bebé vai mesmo impedir que outras coisas se façam durante os seus primeiros meses de vida

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A atenção tem de estar toda nesse pequeno ser indefeso que precisa de nós para comer, para vestir, para tomar banho, para limpar o número um e o número dois, para se desenvolver, para brincar, para abraçar, para sorrir, para consolar, para viver, para sobreviver. E não há trabalho, hobby, rede social, série de TV, blog ou saída que deva ser colocada à frente dele. Embora não haja um momento perfeito, ter filhos tem de ser uma escolha mais do que consciente.

A Magalie tem-me ensinado muito. Demorei um pouco a entender este ritmo, a aceitar até.

Confesso, houve momentos em que pensei "onde está a minha outra vida?". O não dormir mexe muito com o meu equilíbrio, mas assim que "fiz as pazes" comigo mesma e cada vez que olho para ela, que a abraço, contenho-me para não a esmigalhar com amor. Os dias são simplesmente maravilhosos.

Estar a 100% em cada tarefa, estar feliz por estar ali, estar com serenidade e observar, absorver todos os segundos desta troca de amor é avassalador.

O corpo humano faz coisas incríveis! Criar uma pessoa! São tantas as vezes em que olho para ela e penso "nós criamos esta pequena criança"! A responsabilidade de tê-la colocado aqui sem ela ter pedido é tanta que só me apetece fazer cada vez mais coisas para tornar o nosso pedaço de terra mais bonito.

Quando ela sorri não existe nada mais importante no mundo! Por isso lutarei sempre para que ela olhe e sorria com os lábios e os olhos brilhantes.

Lentamente sinto agora que posso regressar à Teia. Tenho saudades, muitos foram os posts que escrevi apenas na minha mente, mas é assim, o regresso tem de ser lento. Espero que vocês me acompanhem nesse ritmo!

A Magalie já chama. Até já :)

PS. Deixo aqui o agradecimento à família e acima de tudo ao pai da Magalie, que é o companheiro perfeito para esta aventura, o nosso herói!

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