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Arigato

Estamos sempre a aprender, estamos sempre a conhecer o outro.

Há uns tempos saiu uma notícia que dizia que se pretendia diminuir o período de ensino das disciplinas de História e de Geografia, perguntei-me imediatamente porquê?

Não é importante conhecermos o local onde vivemos? E o dos outros? Não é importante desbravar o Mundo? Saber que climas, relevos, vegetação influenciam o nosso modo de ver, entender e viver?

Não é importante saber como chegamos aqui? Ao dia de hoje? Ao que temos nas mãos, na nossa frente? Saber quem descobriu, quem lutou pelos nossos direitos, como se caminhou, onde se errou, para não repetir?

Porquê querer encurtar estes temas que são na realidade uma das bases do Homem?

O ano passado trabalhei com um grupo de estudantes japoneses. Estes jovens entre os 14 e 18 anos estudam num colégio interno na Suíça, têm as aulas em inglês e japonês, viajam três vezes no ano e vivem a vida de um modo tão diferente de nós, portugueses.

O contacto visual foi quase inexistente, raramente olharam-me nos olhos.

O silêncio dominava o tempo todo, estariam mesmo atentos ou a sociedade diz-lhes que devem ser assim e a reprimenda é tão forte que simplesmente o são?

As expressões de emoções, fossem elas verbais ou faciais, eram inexistentes. Eu, que adoro emoção, que me expresso com as mãos, com o olhar, com o toque, com o tom de voz, sentia-me sozinha perante todos eles. Estariam a ouvir-me? A entender-me?

Escreviam, desenfreadamente, porque após as visitas teriam de escrever sobre tudo que lhes contei.

As meninas andavam separadas dos meninos.

Os mais velhos colocavam de parte os mais novos.

Riram em todas as refeições perante a chegada da comida, mas não temeram nunca prová-la.

Com os dias a passar alguns contaram-me as suas histórias, os seus sonhos e a importância que dão a que os pais, que estão longe, percebam que são os melhores estudantes.

Quando tinham permissão para tempo livre sabiam ser extremamente independentes e desenrascados.

Os dias com estes jovens fizeram-me pensar muito na educação, na relação pais e filhos, na ideia actual de sucesso, na necessidade do toque humano, na solidão que ainda há tanto, na bondade que existe no coração de uma criança, de um jovem e que não deveria nunca ser alterada por uma sociedade que no fundo foi criada por nós.

No último dia mostraram-me emoção. Deram-me cartas, apertaram-me a mão, fizeram questão de mostrar o conhecimento que tinham adquirido e ainda hoje, um ano depois, recebo emails de alguns deles.

Um dos professores deu-me dos presentes mais lindos que já recebi a trabalhar: aguarelas pintadas por ele!

Foi um misto de emoções, mas foi um presente para a minha vida.

O meu nome em japonês

As aguarelas

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