Num grupo há sempre alguém que na verdade não gosta assim tanto de fazer visitas em grupo e que preferia ter o guia só para si, a fazer o programa no seu tempo e ritmo, a visitar os locais que mais deseja sem ter a interferência de mais 40 pessoas. Alguém que acabou por ir em grupo porque as pessoas com quem foi preferem esse sistema.
Essa pessoa, por norma, nunca está satisfeita com o tempo dado para visitar um local ou para ter de tempo livre. Essa pessoa acha sempre que os outros perguntam coisas sem interesse. Essa pessoa acha sempre que o restaurante recomendado devia ser outro. Essa pessoa acima de tudo, anda sempre mais depressa que os outros e não quer esperar por mais 40 pessoas.
A situação em que se nota quem é essa pessoa é logo ao início, assim que saímos do autocarro e começamos a pimeira das visitas a pé. A reacção normal de um grupo é seguir o guia, deixando-se ficar atrás dele porque não conhece o caminho.
O vencedor da maratona não, ele anda à frente do guia. Ele sai decidido, com passos seguros e rápidos. Só quando não ouve o barulho característico de 40 pessoas perto dele é que pára e olha para trás e lança aquele olhar crítico de quem diz: "não conseguem andar mais depressa?". E retoma o caminho.
Como guia eu respeito o ritmo do grupo, se noto que têm todos muita energia e que conseguem impôr um ritmo rápido (quando um grande número dá a entender que poderia andar na minha frente) eu coloco o meu passo rápido! E não queiram um guia com passo rápido! ahahah
Se tenho um grupo mais descansado ou com mais idade escolho o passo lento (que aprendi ao longo destes anos, não imaginam quão lento pode ser um passo - o que custa depois é voltar a andar a um ritmo normal eheh).
Mas o vencedor da maratona... não percebe como pode dificultar uma simples caminhada. Ao andar mais rápido ele cria ansiedade nos outros e por vezes há pessoas que não podem mesmo acompanhá-lo, por serem mais velhas ou terem problemas já nas pernas. Isso cria até tristeza na pessoa que começa a pensar que está a impedir o grupo de aproveitar o seu passeio. Ao andar mais rápido ele obriga o guia a redobrar ou triplicar a atenção, porque além de olharmos para as pessoas atrás de nós, para aqueles que se perdem a ver uma vitrine, ainda temos que ter o cuidado de ver se ele não virou para a rua errada porque pensa que sabe o caminho e não sabe.
A forma de "educar" essa pessoas aprendi ao longo dos anos: - Atraso o passo até saber que vamos chegar a um cruzamento, deixo-o escolher o caminho (porque sim, o vencedor acha normalmente que sabe se é para a esquerda ou direita, raro é aquele que pára e pergunta) e como quase sempre escolhe o errado, deixo-o ir por uns metros e depois começo a chamá-lo. Como nunca reage à primeira para mostrar que sabe, o grupo começa a ajudar a chamar e a dizer-lhe "estás no caminho errado" com certa preocupação. Aí, ele cede e a partir daquele momento abranda o passo. E a partir daquele dia caminha mais lentamente, mas não deixa de ir à frente! Mas já registou na sua mente que terá que olhar para trás e perguntar nem que seja por um simples gesto ou olhar se é esquerda ou direita e a respeitar o ritmo dos outros.
Em férias aprendam a abrandar. É também para isso que elas servem.