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A Dica do Filipe Alves - Uma fábula chamada Rio de Onor

Quando encontro o Filipe, o meu cérebro leva-me sempre para aquele momento em que o Filipe foi "pescado" para um tour que não era suposto fazer. A expressão dele foi inesquecível e aquela história também (podem lê-la aqui).

A generosidade do Filipe nesse momento é o que caracteriza grande parte da sua forma de ser. Trabalhar com o ele é ter gargalhadas garantidas, é saber que temos um apoio, é saber que vamos também nós aprender algo e é saber que estamos perto de um ser humano gentil e educado.

Sempre pronto a responder a desafios e muito diligente nas tarefas a cumprir, quando convidei o Filipe a escrever este artigo, ele disse logo que sim.


Espero que de deliciem tanto quanto eu.


"Num dos extremos mais recondidos de Portugal encontramos duas aldeias tradicionais, repletas de pequenas casinhas de xisto e estradas empedradas, separadas por uma pequena placa azul que delimita onde termina Portugal e onde começa a vizinha Espanha.


Aqui a fronteira é meramente física: de um lado estamos em Rihonor de Castilla, se damos um passo em frente entramos em Rio de Onor. Como em todos os meios pequenos aqui não há ninguém que não se conheça, e portugueses e espanhóis têm mesmo o seu próprio dialecto para comunicar: o Rihonorês.

No passado, (durante as ditaduras de Franco e Salazar) quando a fronteira era controlada, cada uma delas tinha a sua própria escola e igreja, mas isso já lá vai... hoje em dia ainda há missa na nossa Rio de Onor mas as escolas fecharam há decadas... os jovens foram para fora estudar e trabalhar, ou emigraram em busca de outro conforto.


Mas o que faz deste lugar especial?

Rio de Onor era um lugar esquecido, abandonado e perdido no tempo, mas era lugar de gente humilde e trabalhadora. Quer em Rio de Onor, quer na aldeia vizinha de Guadramil (hoje quase toda em ruinas) praticava-se o denominado Comunitarismo Agro-Pastoril, quer isto dizer... as terras e os animais eram propriedade de todos os habitantes e todos deviam trabalhar em prol da comunidade. Hoje em dia, são poucos os habitantes que ainda partilham animais, mas em contrapartida foi recentemente inaugurada no centro da aldeia “a Casa do Touro”, uma pequena casa-museu que recorda esses tempos comunitários não muito longinquos.

No entanto, nos terrenos que estão junto às duas margens do Rio de Onor, aqueles que espelham a beleza das casinhas de xisto debruçadas à margem do rio, onde apenas se ouve o som de pássaros, o uivo do lobo ibérico, e o do correr da água que vai deslizando em suaves cascatas, ainda trabalham em harmonia os anciãos e são eles que ainda preservam a identidade deste lugar singular.


A história da aldeia pode não ser muito antiga, ou pelo menos não o conseguimos documentar com exactidão, mas foi intensa por ter uma posição fronteiriça e por estar integrada no Parque Natural de Montesinho. Por aqui ainda se contam histórias e estórias de contrabando ocorridos durante a guerra civil espanhola. Eventualmente por ali também poderão ter entrado judeus refugiados no séc XVI, tal como aconteceu por todo o nordeste transmontano. Porém, tal não está oficialmente documentado.


A inexistência de uma estrada em condições quer para Puebla de Sanabria (uma das vilas mais belas de Espanha) e Bragança, fez com que durante décadas os rionorenses percorressem largas distâncias a pé por pequenos trilhos que só eles conheciam até chegar à “outra civilização.”

Sim, porque Rio de Onor era um mundo à parte, havia o dono da famosa “vara da justiça” (poderiamos equiparar à figura de um juiz) eleito pelos aldeões, ou seja, haviam leis próprias a ser cumpridas na aldeia pois o isolamento era grande; os animais eram da comunidade, as tarefas eram dividas e assim sobrevivia o povo sem luxo, mas com uma entreajuda inimaginável nos dias de hoje.


Hoje, ensinamos os nossos sobrinhos ou os nossos filhos sobre o que seria uma sociedade ideal, mais justa e equitatária onde todos seriamos importantes uns para os outros e trabalhariamos para o bem comum. Pois bem, caros leitores essa micro sociedade tanto sonhada existiu outrora nesta pacata aldeia.

Rio de Onor é hoje um dos mais belos postais de Trás-os-Montes e isso não passou despercebido aos novos moradores, todos eles estrangeiros rendidos à beleza idílica deste tesouro trasmontano e aos portugueses que a elegeram como uma das 7 aldeias maravilha de Portugal.

Com a fama veio o proveito e a vitória no concurso atraiu investidores que criaram alojamentos locais para turistas, e que fomentaram a organização do festival “há festa na aldeia”. "

Filipe Alves

filipedacruzalves@gmail.com

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