top of page

A Dica da Margarida Pereira - Primavera

Se são leitores assíduos do blog, já me "ouviram" dizer que quem exerce a profissão de Guia só o consegue fazer se for apaixonado por ela.

No fim do primeiro ano e num máximo de três neste trabalho, a exigência física, mental, social e financeira escolhe quem fica.


A Margarida Pereira é um dos casos de paixão/amor pela profissão, pois exerce há quase 40 anos (num certo período da sua vida trabalhou na Alemanha, no anteriormente denominado ICEP, o actual Turismo de Portugal).

Nascida na Ilha da Madeira, desde que começou a trabalhar, a Margarida divide o seu tempo entre o Continente e a Ilha, que para si é "casa", onde continua a passar regularmente longos períodos. Foi ali que, desde muito jovem, nasceu o desejo e a paixão de seguir as pegadas da sua mãe, que além de professora primária era também Guia Intérprete Nacional.


Conheci a Margarida logo no meu primeiro ano de trabalho e foi tão fácil ver o quanto poderia aprender com ela. Exemplo de uma excelente profissional, a Margarida passou-me, provavelmente sem perceber, o quão importante é um Guia estar em constante formação, em manter o espírito positivo, em fazer exercício e principalmente, e apenas observando, aprendi truques para lidar com os grupos de alemães! Truques preciosos que tanto me ajudaram ao longo destes anos, pois é Margarida, obrigada!


Assim, este mês inauguramos A Dica da Margarida, que tanta felicidade me dá.

Com ela vamos passear pelo mundo das flores, e quem melhor que uma madeirense!

Através dos seus textos quase que sentimos os odores que se juntam às explosões de cores das suas fotografias (todas tiradas por si).


O primeiro tema é A Primavera:


"Vá para fora, cá dentro! Como diz o conhecido “slogan” turístico.


O confinamento inspira-me! Remete-me ao prazer de saborear e sentir o vento na cara, ao cheiro a maresia, às cores da Natureza, transportando-me à minha terra Natal, a Ilha da Madeira. Lá, cresci aprendendo desde muito cedo, a valorizar o pouco que havia como distração. Um programa maravilhoso de fim de semana, era por exemplo uma, então, longa viagem até ao aeroporto de Santa Catarina, o aeroporto do Funchal, o qual, entretanto, mudou de nome.... Era imensa a alegria de ver os aviões a aproximarem-se e a fazerem-se à pista. Ficava subjugada pelo ruído e pela energia emanada pelos adultos… O avião aterrara em segurança.


A Primavera…. profusão de cores e perfumes, onde tantas variedades convivem e crescem juntas, indiferentes às adversidades naturais ou provocadas pelo Homem, através de, por exemplo detritos deixados à beira de estradas ou mesmo em prados….

Os passeios pela Natureza, são e sempre foram uma atividade regular, e, além das paisagens de tirar o fôlego, mas para as quais eu era demasiado jovem, e faltava-me a vivência, a experiência de vida para poder dar o real valor. Somos avassalados pela exuberância de cores e formas, tantas “ervas” que também cresciam nos nossos terrenos. Chamávamos “ervas daninhas” e tínhamos de as arrancar….

Lembro-me de várias, todas elas eram “boas” para alguma coisa: para impingens, estômago, pele, dor de barriga ou para dormir…


A Primavera regressa todos os anos na sua pujança com os seus tons vivos, nos prados, terrenos abandonados, hortas, bermas das estradas, e mesmo até em muros da grande cidade… crescem, florescem indiferentes a todas as adversidades e só os mais desatentos as ignoram. Muitas destas flores estão regularmente presentes na gastronomia ou na procura de cura para algum mal menor. Desde sempre assim foi.


Hoje quero falar de algumas das muitas plantas que se encontram em plena floração: Capuchinhas, Camomilas, Macela, Crisântemos e o Alecrim.

As Capuchinhas são também conhecidas como Chagas de Cristo, ou só Chagas ou ainda como Nastúrcio entre outros. Falo das Tropaeolum majus L, para os mais eruditos. O seu nome provém do grego “tropaion” que significa” pequeno troféu”, devido à disposição das suas folhas, e foi introduzida na Europa pelos Jesuítas no século XVI. A sua floração inicia-se no princípio da Primavera, e prolonga-se até ao Outono. Tem umas flores lindas com vários tons que variam entre amarelo escuro, laranja ou mesmo avermelhado. São comestíveis. Quando eu era miúda, falava-se disso, mas não era consumida. Atualmente encontramo-las em saladas ou decoração de cocktails em restaurantes gourmet. Além da flor, as suas sementes podem ser preparadas como picles, com sabor semelhante às alcaparras.

Esta fotografia foi gentilmente cedida pelo site asenhoradomonte.com

Outra particularidade desta planta, aliás como outras plantas companheiras, aquelas que se dão bem entre si, é o facto de as suas cores atraírem pulgões e outros afídeos, protegendo assim na horta as favas ou couves. Devido a caraterísticas terapêuticas associadas ao efeito antibiótico, é usada na medicina tradicional. Esta pequena maravilha, que tem outro nome, menos erudito, mas inesquecível: bufas de senhora!

Encontramos na paisagem primaveril, vários tons de rosa das Malvas, os amarelos dos Dentes de leão e dos Crisântemos, os brancos da Glaucus muricatus (cenoura selvagem), das Camomilas e Margaridas, os tons azulados da chicória e da Echium plantagineum (soagem), e os lilases dos Cardos…

A Camomila, Matricaria recutita, (Margaça, Camomila-vulgar, Camomila-comum, Macela-nobre, Macela-galega), planta medicinal, usada no tratamento da ansiedade, estimulante da cicatrização, antibacteriana, é muitas vezes confundida com as Margaridas. É relativamente fácil distingui-las. As pétalas de ambas crescem retas em direção às extremidades. Nas Camomilas, as pétalas tendem a pender porque os grãos de pólen que formam o “olho” são mais pronunciados e as flores são mais pequenas do que a maioria das Margaridas. A Camomila é sobretudo branca, e as margaridas podem ter as mais variadas cores desde o branco, azul, amarelo, rosa, vermelho e mesmo bicolores.

Há quem confunda as Camomilas ainda com uma outra planta: Chamaemelum nobile, a Macela ou marcela. Tem propriedades terapêuticas e é vendido por senhoras nas ruas circundantes ao Mercado dos Lavradores no Funchal, custando cada molhinho 5 euros. Tem um perfume intenso e característico, e na Madeira é muito usada para chás na procura de alívio ou cura de doenças, como cólicas, stress, inflamações, insónia, diarreia, dores musculares e menstruais, e muitas mais.

É incontornável não mencionar o Rosmarinus officinalis, celebrado na canção popular “Alecrim aos molhos” nativo da Europa, autóctone, e dispersa pelo Homem em Portugal Continental e Açores e, curiosamente, nunca se “assilvestrou” na Madeira. O seu nome em latim, e assim chamado pelos romanos, significa “orvalho do mar”.

Cresce em matos abertos, formações arbóreas abertas, em locais expostos, secos e quentes. É uma planta melífera e frequentemente plantada na proximidade de apiários.

Ainda hoje o alecrim é considerado uma erva protetora e é, com essa finalidade, usada frequentemente pelos madeirenses que a plantam à entrada das suas habitações ou, muito simplesmente, usam um ramo da erva em forma de cruz como amuleto protetor contra o mau olhado.


Chegámos ao mês de Maio, … nos verdes prados reluzem as flores amarelas silvestres, as eleitas para a tradição dos “Maios” ou “Maias”. Os adornos, diferem em muitas regiões de Portugal. Na Madeira, Chrysanthemum coronarium, são as flores mais usadas, para os típicos “Colares de Maios”, que são pendurados ao pescoço, numa alusão à Natureza e ao Dia do Trabalhador.


Os Crisântemos de nome popular Malmequeres ou Pampilhos, são autóctones de Portugal Continental, e foram introduzidos na Ilha da Madeira, crescem em baldios urbanos, bermas de caminhos e campos agrícolas cultivados ou incultos. É uma planta muito rica em minerais, vitaminas, potássio e antioxidante na raiz, folhas, caule e nos tecidos. São maioritariamente de olho amarelo e pétalas brancas, havendo, no entanto, e menos frequentemente, espécies totalmente amarelas.


As manifestações alusivas a este dia, diferem de região para região. O dia 1 de Maio acorda com as portas enfeitadas de giestas, coroas e tapetes floridos, absolutas obras de arte tecidas a flores. No Algarve são colocadas bonecas de palha de centeio e trapos, sentadas em frente à porta de casa, segurando frutos da região.

A sua origem, provavelmente em rituais pagãos ligados ao culto da fertilidade para com o novo ciclo da natureza, à celebração da Primavera e o fim do Inverno, ou ao início de um novo ano agrícola, mantem-se ainda no dia de hoje.

margarida.ribeiropereira@gmail.com

You Might Also Like:
bottom of page