Falamos muito em mudar o Mundo, mas será que começamos essa mudança por nós ou exigimo-la apenas dos outros? O que fazemos então pelo Mundo?
Acredito que ainda estamos a tempo de cuidar muito bem deste Mundo, por muitos mundos que haja dentro dele. Acredito que podemos caminhar para o respeito, a harmonia e o amor entre todos.
Mas sei que a mudança começa em cada um de nós, não nos outros, mas em nós.
Assim decidi convidar pessoas que admiro, com projectos que admiro, que sei que começam a mudança por elas. Deixo-as aqui como inspiração.
Alexandre Landeiro estudou Engenharia Civil e Arquitetura e apaixonou-se por um questão que urge pensar nela - como estamos a lidar com os espaços públicos? São bem planeados? São apelativos? Correspondem ao que a pessoa verdadeiramente precisa?
E que precisa a pessoa que se desloca na cidade?
As questões são muitas e os pontos que toca geram muitos assuntos em que pensar, mas tendo em conta a forma como estamos a "usar" a cidade ou os espaços públicos, seria bom que todos refletissemos sobre isto.
Afinal não queremos todos andar de carro, mas também ter espaço no passeio, respirar um ar mais puro e ver verde à nossa volta?
Mobilidade ativa é o grande projeto do Alexandre.
Ora leiam:
Quem é o Alexandre Landeiro?
Definir-me seria limitar-me, quando a gente passa a entender como o mundo funciona começamos a nos ver como um pedaço de um todo, e é assim que tento levar a vida. Claro que é apenas uma forma de encarar nossa realidade, mas é aquela que se encaixa melhor e flui naturalmente para mim. Quando estamos em estado de selvageria, tentando suprir necessidades básicas da vida humana – desde alimentação até emoções – ficamos limitados para expandir a consciência e perceber esta noção do todo, essencial para a vida boa.
Considero-me uma pessoa com um senso de justiça e diplomacia forte, geralmente utilizado para escutar dois lados e tentar uma resolução do problema. Acredito que por ter tido tantas oportunidades na vida tenho uma obrigação moral, pelo menos comigo mesmo, de converter isto no bem para a sociedade.
Nasci no Rio de Janeiro e cresci na Região Serrana do estado, numa cidade pequena para as dimensões do Brasil. Lá frequentei uma escola que mais parecia uma casa, éramos 15/16 na sala e isto despertou em mim a importância de uma abordagem mais humana nas coisas do dia a dia. Em casa, aprendi muito sobre humildade e amor, sempre rodeado de muitos animais. Estudei 4 anos de Engenharia Civil, onde tive a oportunidade de trabalhar em diferentes setores e percebi que faltava ali a tal ‘parte humana’, fui buscar então a Arquitetura. Nesta segunda faculdade, iniciada no Brasil e concluída aqui em Lisboa, comecei a descobrir novos horizontes para aquilo que urgia dentro de mim e a dar sentido para as coisas. Optei então por fazer o Mestrado em uma área que afeta a todos e que veio sendo injustiçada a nível global ao longo dos anos: os espaços públicos.
Qual a importância de modificar o modo como planeamos e vivemos as cidades?
O modo como planejamos nossas cidades ao longo dos últimos 100 anos (pelo menos) nasceu focado em resolver questões essenciais, como as novas condições de vida da classe operária pós-revoluções industriais. No entanto, motivado pelos advanços tecnológicos, as teorias do Modernismo quase sempre enxergaram o homem como uma espécie de máquina, algo intermutável, que poderia simplesmente ser encaixado em regras universais. As necessidades da época fizeram com que o Urbanismo fosse desenvolvido com foco no funcionalismo, na estética e nas questões fisiológicas, nomeadamente na qualidade do ar, luz natural e espaços verdes.
Estas ideias foram realmente revolucionárias e indispensáveis, mas são incompletas, pois o ser humano tem outras vertentes essenciais, como as questões psicológicas e sociais. O movimento que surge para transformar as cidades em lugares mais vivos já vem da década de 60, onde muitas cidades já estavam consolidadas e, ainda hoje, os regulamentos e legislações do Urbanismo são baseados no Modernismo.
Mas voltando à pergunta inicial, é fundamental abranger toda a complexidade humana no planejamento de uma cidade, através de uma abordagem multidisciplinar, pois afinal é o nosso habitat. Caso continuemos a nos limitar nas visões do passado, iremos constantemente afastar as pessoas das suas necessidades básicas, recriando os estados de sobrevivência/ selvageria que eu gosto de chamar da escravidão contemporânea. A vida então passa a ser uma luta constante contra o tempo, uma busca que, intensificada pela Era da Informação, torna-se incessante e, pior, automática, pois é da natureza humana tentar alcançar os seus objetivos pelos caminhos onde haja menor esforço, menor gasto energético. Portanto, se já existe todo um modelo de vida preparado para o homem, é preciso um esforço extra para romper com a chamada ‘Corrida dos Ratos’, o que raramente ocorre devido ao enorme desequilíbrio nos universos sociais, a níveis econômicos, culturais e educacionais.
O assunto é extenso, mas espero ter deixado a ideia da importância que os profissionais da área tem e o impacto que podem causar, é uma espécie de medicina preventiva a longo prazo – mental e física.
Cidades para carros ou para pessoas?
A cidade surgiu para cooperação, é um espaço das pessoas e para elas. O carro é apenas uma ferramenta pessoal que serve para ir e vir. Mas a partir do momento que isto começa a prejudicar o todo, está na hora de mudar algo. Neste caso esta hora já passou há muito tempo. Carros parados por toda a cidade, em cima dos já pequenos passeios e as pessoas que andem espremidas nos cantos? Que vontade você tem de ir à uma rua assim? Você provavelmente só vai à uma rua assim se for fazer alguma atividade obrigatória – trabalho, ir ao banco, visitar um amigo, etc. Se eu comprar um sofá que não caiba na minha casa e colocá-lo na rua posso exigir que aceitem? Porque é que damos tanto espaço para os carros e abrimos mão de tanta qualidade de vida?
Não é uma guerra ao automóvel, pois sabemos muito bem da praticidade dele em diversos aspectos, mas se tornou algo anti-democrático a forma como distribuimos os espaços e os recursos naturais/ econômicos. É uma estratégia totalmente insustentável, em todos os aspectos – econômicos, ambientais e sociais. Estamos enxergando a mobilidade urbana de uma forma multi-modal agora, mudamos a pergunta de “quantos carros podemos fazer passar nesta rua” para “quantas pessoas podemos fazer passar aqui”. O carro não é para pequenas distâncias, propomos um “Back to Basics” na forma como nos movemos dentro de uma cidade...
O foco da minha pesquisa é mobilidade ativa, ou seja, a pé ou de bicicleta. Descobri ao longo dos últimos anos o quanto este equilíbrio pode fazer bem para uma comunidade a níveis econômicos, ambientais, sociais e de saúde (mental e física). Quando construimos focado nas pessoas tudo acontece, e a cidade se torna mais viva, novas oportunidades surgem, é uma excelente estratégia para combater o crescente problema de solidão, por exemplo. Os grupos mais afetados por tudo isto são sempre os mais vulneráveis: crianças e idosos. Planejar para as pessoas é transfomar espaços de transição em lugares de estar, aumentando a coesão social e o senso de pertencimento.
O ambiente construído influencia totalmente nossos padrões de comportamento, através de uma série de atributos físicos, mas também de qualidades subjetivas, ou seja, quais as reações que tais atributos provocam nas pessoas. Uma comunidade sustentável tem que ter pessoas nas ruas, vivendo, atuando mesmo que passivamente, comprando, passeando o cão, trocando olhares (algo que a vida num carro não proporciona)… e para isto temos que construir ruas convidativas e seguras.
Portanto, cidades para pessoas, sempre.
O que significa “viver” para você?
Viver para mim é desconstruir e construir constantemente, é como fazer uma trilha, às vezes descemos e às vezes subimos pelas montanhas, e isso não quer dizer que seja bom ou mau, é o que é. Se conseguirmos enxergar a efemeridade das nossas emoções poderemos viver com mais leveza e alegria.
O que tem a Vida de mais belo?
Momentos de amizade e amor.
Partilha connosco duas dicas para que possamos sorrir todos os dias?
Agradecer e oferecer.
Quais consideras ser os 3 maiores problemas do Mundo?
Comunicação, egocentrismo e ignorância.
Indica 3 gestos diários que podem tornar este, um Mundo melhor.
Sorrir, partilhar conhecimento e olhar mais nos olhos...
Qual é a Causa que mais apela ao teu coração?
Não sei se tenho uma em especial, mas aquelas que envolvem grupos vulneráveis... crianças, animais, etc... se defendem o mais fraco, é nobre, porque ajudam a tornar o mundo mais harmonioso e equilibrado.
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Livro: O Poder do Agora – Eckhart Tolle
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