Cenário: Poço da Regaleira
Personagens: 2 Guias Intérpretes e 80 turistas vindos de diversos países
Take 1:
O grupo descia o poço. Como eram muitos, eu fui na frente, guiando-os pelos túneis, posicionando-me depois num ponto estratégico, para que se dirigissem à saída correcta de modo a não perdermos ninguém do grupo. A Joana iria no final, para que ao vê-la eu soubesse que o grupo estava completo. Assim, fui vendo o grupo passar. Oitenta pessoas fascinadas por todo aquele cenário demoram algum tempo a percorrer os túneis. Mas ao fim de alguns minutos e do fluxo ter diminuído comecei a estranhar não ver a Joana. Até porque a contagem estava praticamente completa.
Já um pouco preocupada, decidi voltar atrás e descobrir o que se passava. Estaria alguém magoado? Perdido? A própria Joana?
Take 2:
Chego à porta do poço, olho para as escadas, e a primeira coisa que vejo é uma mulher que tem algo nos olhos! "Alguém vendou os olhos? Estou mesmo a ver isto?", pensei!
A seguir vejo a Joana, a caminhar muito lentamente, a descer as escadas de costas, com um ar um pouco aflito, de braços estendidos e a parecer que guiava alguém.
Pisco os olhos, revejo a cena, e pensei: "não pode ser verdade?"
A explicação da Regaleira envolve muitas teorias, uma das que aprendi enquanto aí estagiei, foi que o iniciado teria que ir de olhos vendados, descendo o poço, para assim descobrir a saída correcta. A saída que conteria água, para morrer e nascer de novo. Apurando todos os outros sentidos, incluindo a intuição.
A rapariga, decidira fazer a iniciação.
Conta a Joana que quando a viu tapar os olhos, tentou tudo por tudo que ela não levasse a ideia avante. Mas não conseguiu. Assim, a Joana, optou pela hipótese mais segura, não deixar a rapariga sozinha, porque se ela caísse, de certeza que rapidamente esqueceria que tinha sido ela própria a ter essa ideia fenomenal e culparia as guias, ou quem sabe a própria Regaleira (já que a sua nacionalidade é daquele país em que se consegue até processar uma formiga, se assim for preciso!) por se magoar seriamente.
E assim foi, a Joana e a "iniciática", a descer o poço, a percorrer o túnel.
Rapidamente a notícia espalhou-se e o resto do grupo esperava ansiosamente que ela passasse as pedras sobre a água, também de olhos vendados, mas a Joana lá a convenceu que não seria necessário!
Take 3:
A rapariga sentia-se realmente renovada.
Todos os outros estavam incrédulos. Tenho a certeza que foi motivo de conversa por longas horas e dias.
A Joana merecia um prémio pela sua paciência!
Eu, só queria rir. E só ouvia: "Os Guias realmente têm que ter uma paciência!!!!"