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O dia em que comi 4 pastéis de Belém de seguida!

Nunca tinha comido mais de dois! E nesse dia com a diversão do grupo e sobretudo a simpatia deste casal aceitei o desafio e comi quatro pastéis de Belém de seguida. Há pessoas que é realmente um prazer conhecer na vida, esbarrar com elas, nem que seja por uns dias, umas horas. Este é daqueles grupos que não esquecemos. Eram 8 no total e chegaram a Portugal de caravana desde a Alemanha. Percorreram o nosso país de norte a sul e em Lisboa estive com eles 3 dias. Eram pessoas interessadas, curiosas e com muitas histórias para partilhar. Tinham também o lado mais descontraído (que por vezes é difícil encontrar nos alemães) e adoraram os pastéis de Belém (algo que também chega a ser raro nos alemães, pelo menos da experiência que tenho com os meus grupos. Acham-nos doces demais!) A senhora da foto veio com o marido e ouvir a sua história de vida foi... relembrar-me a vontade que tenho em acreditar no ser humano. Teve que trabalhar desde cedo para ajudar a família. Conheceu o marido ainda nova, "mesmo novinha", dizia-me ela. Apaixonaram-se e não conseguiram largar-se desde então. Também ele trabalhava desde bem novo, para ajudar o pai. Decidiram casar, mesmo sem terem dinheiro. Passado um ano esperavam o primeiro filho, ano depois a segunda. Os tempos eram difíceis na Alemanha, mas não baixaram os braços. Os primeiros anos de vida desta família foi... numa caravana. Que venderam muitos anos depois "com alguma tristeza à mistura". Dizia com o olho a brilhar que os filhos adoram viajar assim, em caravanas! certamente devido aos anos em que viveram os 4 numa pequena caravana. Mas essa caravana foi quem formou o carácter da família, foi quem os ensinou o que é respeitar, amar, ajudar. O espírito de união que não se quebrou. Recordava a sorrir como era fazer a "lida da casa", como era brincar com as crianças, como era nada ter e tudo conseguir dar, que não é preciso dar um ipad a uma criança para que esta seja feliz! Lembrava-se do marido a chegar muito cansado das horas de trabalho numa fábrica, mas que encontrava o tempo para viver a família. E ele sorria a reforçar a ideia de que era essa imagem da mulher e dos filhos, em casa, da comida simples na mesa simples que o fazia viver e descansar. Lembraram-se dos banhos, de como muitas vezes a água estava fria! A certo ponto, a vida melhorou, o marido subiu de cargo, ela arranjou mais trabalho e conseguiram adquirir uma casa. Actualmente os filhos já têm filhos. E a mãe do marido desta senhora ainda está viva, quando regressassem à Alemanha iriam festejar os 89 anos da sogra, que tem Alzheimer e não sabe quem é nem onde está! Mas, "aproveitar o tempo com ela, sabe, vive conosco, não a podiamos deixar só. Criamos todo um espaço para que ela se sinta bem e adaptado às suas necessidades. E toda a família ajuda a cuidar dela. A família é o melhor e maior bem que temos e é esse amor que nos faz viver." Nisto veio uma rajada de vento frio e ela lembrou-se "sabe o meu neto quer acampar com os amigos na Suécia em pleno Inverno! Não sei como consegue, isso sim é frio, nem sei como se aquece. Mas... temos que o deixar ir não é? Viver as suas experiências na idade certa. Sentir a vida e o mundo. E é um menino responsável!" Quando me despedi do grupo, despedi-me com pena. Aquela pena de horas boas partilhadas e não saber como será a próxima pessoa que vamos encontrar, de não saber como será a aproximação, a entrega, a vontade do próximo grupo. E este fora tão bom. Mas, ao longo destes 10 anos de profissão já aprendi um pouquinho, sim, pouquinho, a proteger-me destes momentos: guardar as palavras e sorrisos destas pessoas, sentir que ajudam a acreditar um pouco mais no mundo, sentir que me dizem que ainda há salvação para o ser humano e que há pessoas que amam mesmo, que se unem mesmo, que estão mesmo presentes, que entendem que a simplicidade é tudo, que basta mesmo tão pouco para sermos felizes e para respeitarmo-nos mesmo uns aos outros, evitando dores. "Problemas temos todos, momentos tristes e de profunda dor há em todas as vidas, precisamos é saber criar o canto onde saramos e protegê-lo sempre, sem o abandonar. Sem baixar braços, mesmo quando estamos cansados. Hoje deixa-se tudo, num rompante. E no medo de achar que na esquina está melhor, esquecemos dos que nos abraçam já há tanto tempo." Certamente a vida deles não é perfeita, certamente há dor e há discussões, há choros, mas parece-me que encontraram um equilíbrio e um respeito em manter o amor e a simplicidade da vida. Entre o pensar demasiado só em nós ou demasiado só nos outros. Hoje abri o email e tinha esta foto entre outras. Sorrio e relembro-me da caravana deste casal, coberta de autocolantes de todos os sítios por onde já tinham passado! Relembro o sorriso dela a dizer-me adeus e o seu abraço apertado.

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