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Distâncias e toques

Ao sair do autocarro e começar as explicações in loco é curioso notar o comportamento do grupo: a forma como se dispõe à volta do guia, a distância que guarda, os que ficam na frente, os que ficam mais para trás.

Mais interessante ainda é notar a repetição de comportamento de acordo com as diferentes nacionalidades.

Os ingleses espalham-se o mais possível guardando longas distâncias entre si e mesmo com o guia, uma espécie de espaço vital que não deve ser invadido. Ao ser-lhes pedido para se aproximarem mais de modo a que dêem espaço a outros grupos e visitantes e também para que ouçam melhor, eles avançam literalmente um milímetro. Fazem um pequeno movimento com o pé, balanceiam o corpo, mas na verdade nem um passo foi dado. Eu, por norma, volto a insistir, sorrindo. O milimétrico passo é dado mas com expressões extremamente sérias. Se não tenho grupos à volta acabo por ceder, mas quando há mais visitantes insisto, pois acho que é rude ocuparmos um espaço todo desnecessariamente e ao qual todos têm direito (não só fisicamente como em audição... é que gritar explicações é mau para a voz e para os ouvidos de todas as pessoas naquele espaço). "Não tenham medo, não vos vou bater" digo-lhes sorrindo e eles subitamente desarmam, riem e dão o passo!

Os franceses são um misto. Os Parisienses guardam uma distância de segurança, fazem pequenos grupos dentro do grupo e sussurram imenso o tempo todo. Já os da Bretanha ou do Sul desenham um círculo à volta do guia e é difícil convencê-los que se ficarem todos na frente do guia será mais fácil e mais proveitoso, pois a projecção de voz será igual para todos. Lá voltam os gestos, a linguagem corporal a tentar desenhar uma linha na minha frente, mas nem sempre sou bem sucedida. E lá vou eu rodopiando e girando a explicar o monumento/local.

Os alemães são talvez os mais cientes de ocupação de espaço, colocam-se na frente do guia, com um espaço saudável entre os dois lados e entre si.

Todas estas nacionalidades cumprimentam sempre com um aperto de mão e quando interpelam o guia é normalmente pelo título Sr/Srª (excepto os tais da Bretanha que memorizam o nome e gentilmente dizem Catiá, com aquela entoação no -a final que tanto me faz sorrir e querem todos dar beijinhos)

Raramente trabalho com grupos espanhóis ou italianos porque não falo a língua deles, mas quando a língua oficial é o inglês tenho o prazer de trabalhar com estas nacionalidade. Parece um outro mundo, tão diferente das nacionalidade já mencionadas. Falam o tempo todo, gesticulam imenso e quando chega o momento de formar o grupo no exterior querem todos ficar na fila da frente o mais colado ao nariz possível do guia. Acotovelam-se, pedem sempre para o guia falar mais alto (por mais alto que seja parece nunca ser o suficiente) e constantemente tocam o guia. O nosso nome, memorizam sempre. Lembro da primeira vez que trabalhei com italianos, ao estar habituada às cordialidades nórdicas, quando ouvi o meu nome procurei por uma pessoa conhecida. Pensei mesmo que seria um conhecido que passava ali perto e estranhei quando percebi ter sido do meu grupo. A primeira reacção foi pensar como é que aquela pessoa sabia o meu nome, praticamente tendo-me esquecido que me tinha apresentado no início do tour! Estão sempre prontos a dar abraços e beijinhos e a interpelar puxando por um braço!

Da minha experiência com chineses e indianos noto que não há a mínima vontade de ouvirem uma explicação. Colocam o pé fora do autocarro e cada um quer ir para o seu lado, seguir o seu caminho e voltar na verdade quando lhe aprouver.

Mas comportamentos asiáticos dará todo um outro capítulo.

Balancear a vivência com todos eles é o melhor, porque por vezes apetece aquela "frieza" nórdica e tantas outras o "calor" mediterrânico.

... mas claro, não devemos generalizar...

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