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Só para os enervar peça uma sobremesa!

Não consigo recordar qual é o filme, mas esta cena nunca saiu da minha memória: uma rapariga estava num restaurante a jantar sozinha e as pessoas das outras mesas observavam-na e comentavam porque estaria ela sozinha. A certa altura um senhor levanta-se, vai ter com ela e diz-lhe: "só para os enervar peça uma sobremesa!" e riem os dois. Quando tenho almoços ou jantares com grupos lembro-me frequentemente desta cena. Sei que não sou a única a sentir-me assim, que os meus colegas também pensam o mesmo: a hora da refeição tem muito que se lhe diga. Por vezes é um momento em que apetece mesmo estar sozinho, porque é um momento de descanso. Deixamos de pensar numa língua que não é a nossa e podemos pensar noutros assuntos que não o trabalho. Mas noutros momentos, é muito solitário! Num tour com um grupo de turismo "normal" (entenda-se cultural), tanto podemos ser convidados a sentar-nos com o grupo, como termos uma mesa à parte, onde nos sentamos com o motorista e por vezes o tour leader. Num grupo de incentivos, ficamos definitivamente numa mesa à parte e por norma sozinhos ou até vamos mesmo a outro restaurante e voltamos mais tarde para buscar o grupo. Quando ficamos somos responsáveis pelo decorrer da refeição, ou seja, verificar que o menú foi o escolhido pelo cliente, verificar os pedidos especiais (alergias e dietas), se o tempo decorrido da refeição é aceitável, se têm bebidas, se foi servido quente,tudo. Ao ficar com companhia o tempo passa mais depressa, mas quando ficamos sozinhos... Por vezes é doloroso, sobretudo quando os jantares são longos (uma noite estive das 19h30 às 01h00 à espera que terminassem o jantar) Certa vez fiquei bem no meio do restaurante (num daqueles restaurantes que escolhemos para celebrar uma ocasião especial?!), numa pequena mesa sozinha, rodeada de casais e famílias, sentindo-me completamente observada, sentindo aqueles olhares intrigados a ponderar porque estaria aquela menina ali sozinha tantas horas? (o meu grupo estava numa sala no andar de baixo, o que tornava a minha presença ainda mais intrigante. Pois quando o grupo está numas mesas ao lado, passado um pouco as pessoas percebem quem somos). E aquela cena do filme não me saía da cabeça. Eu olhava, sorria, comia, por vezes lia um pouco do livro que nestas situações nos salva vidas, aumentava o gasto dos sms do telemóvel e voltava a sorrir. Nesta profissão aprender a estar numa refeição sozinho é essencial. a sobremesa? comi-a :)

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