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Regras de autocarro

O autocarro, como qualquer outro transporte, tem as suas regras de segurança, mas talvez por não ser o transporte das situações que gerem um certo medo ao ser humano (como um barco no largo oceano ou o avião no imenso céu), este tende a achar que tudo é possível num autocarro e que as regras são um exagero. Creio que a maioria das pessoas pensa num autocarro como num carro um pouco maior.

Errado, é um meio de transporte que transporta pessoas, logo vidas, e que, pelas suas dimensões exige muito cuidado e atenção (e se os autocarros estão cada vez mais compridos!).

Não se pode pedir ao motorista para parar "só por um instante", para encostar ali naquela esquina ou para subir um pouco o passeio. Um autocarro mede, pelo menos, 13 metros de comprimento, por isso não tem uma facilidade extrema em curvar, e a porta não abre e fecha com um simples movimento de um braço. Abrir e fechar portas levará vários segundos, pois são sistemas accionados por mecanismos electrónicos! Além de que não é como um pequeno carro que poderá passar despercebido no meio do trânsito e que a polícia poderá não ver! O autocarro é visto a metros e metros de distância!

O cinto de segurança é de uso obrigatório. Tal como num carro pode prevenir choques e quedas.

Em Portugal não se podem transportar cães ou gatos, sei que é algo que por vezes causa indignação a alemães e franceses, mas é regra nacional., assim, deve ser respeitada.

Comer e beber é também proibido. Nos casos em que acontece, é porque o motorista foi simpático e permitiu. Essa regra é internacional e incontornável, sobretudo nos chamados países civilizados. Além de que um autocarro pode no mesmo dia ter mais do que um serviço. Se o grupo da manhã o sujar ele irá assim para o serviço da tarde. Se o grupo da manhã apreciou ter um autocarro limpo, provavelmente o da tarde irá apreciar o mesmo.

Pergunto-me por vezes porque pessoas que, nos seus países respeitam ao extremo todas as regras, quando chegam a Portugal pensam que é má vontade não deixar comer ou beber. Se não se debatem com a lei no país de origem, porque a criticam noutro país e não a querem respeitar?

É proibido entrar num autocarro com garrafas ou copos de vidro. Motivo: segurança.

Se o motorista necessitar de travar mais bruscamente, a pessoa corre o risco de levar o copo à face, à garganta ou a qualquer outra parte do corpo. Mas, explicar isto a turistas após um jantar quando já estão bem mais alegres, alguns mais alegres do que aquilo que é permitido por lei, tudo torna-se muito complicado. E lá tem o guia que andar a tirar copos das mãos esboçando um sorriso para não ser levado a mal por não deixá-los beber mais, mas na verdade era para prevenir acidentes sérios!

Obviamente, as pessoas não são obrigadas a conhecer a lei, por isso o guia e o motorista têm o dever de informar todos os passageiros de modo a que se cumpram as regras e, caso haja uma operação stop, que não sejam multados por incumprimento da mesma. O nosso dever é tornar a viagem o mais segura possível. Mas, em certos casos, a decisão final está nas mãos de cada um. Por exemplo, não colocar o cinto de segurança depois de ser avisado é uma decisão individual, então a multa será entregue à pessoa que não o colocou.

Assim como num avião, num autocarro existe um limite de tamanho e de peso para as malas que se colocam por cima do passageiro, porque, se caírem, o peso poderá ferir seriamente alguém.

Certo dia, o motorista alertou-me para um casal que queria transportar uma mala típica de porão na parte dos passageiros. Fui ter com a senhora e informei-a que não deveria fazê-lo, que a lei não o permite. Respondeu-me que era uma câmera de filmar muito cara e que tinha medo de a danificar no porão. Disse-lhe que a colocariamos com todo o cuidado, mas que seria melhor ir lá em baixo. Disse-me que não, que preferia colocá-la perto de si. Informei-a que, caso a polícia nos mandasse parar e entrasse no autocarro, ela poderia levar uma multa de 250€. A intenção foi apenas de informar, porque se a polícia a quisesse multar e se não tivesse sido informada, facilmente as culpas seriam atribuídas ao guia e ao motorista por "falta de aviso, porque se tivesse sido avisada, cumpriría a lei!"

A senhora ficou mais apreensiva e alertou o marido. Este comentou prontamente, como se eu não estivesse ali: "that's rubbish, what a ridiculous thing to say" e praticamente atropelou-me para se sentar.

Com toda a calma que consegui ter, abrindo um sorriso, voltei-me para trás e disse-lhe: "It's not rubbisch sir, it's the law. I'm just informing you. Now it's your decision. Thank you.". A polícia não apareceu.

É nestes momentos que penso que aprendo a Vida: se o senhor tivesse parado para pensar um pouco mais, teria percebido que, em prol de um interesse próprio, estaria a colocar não só a sua vida em perigo, como a de qualquer outro passageiro perto dele, caso algum azar acontecesse. Esta profissão ensina-me todos os dias como é importante sermos cordiais, sabermos respeitar e olhar pelos outros, porque talvez aquilo que nos estão a dizer seja importante e seja com intuito de ajudar e não de prejudicar. Calma e respeito são essenciais na vida e se todos estivéssemos mais atentos talvez o mundo fosse um local mais calmo e carinhoso.

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